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Entre Perdas e Ganhos: Quando um irmão não é apenas um irmão

  • Foto do escritor: Bruno Anicet Bittencourt
    Bruno Anicet Bittencourt
  • 3 de mar.
  • 3 min de leitura

Eu tinha muito medo de não amar da mesma forma o segundo filho como amava o primeiro. Era um medo irracional, mas real. Como poderia caber tanto amor em um coração que já parecia cheio? Mas então o Léo chegou. E eu percebi que esse medo era, na verdade, uma bobagem. O amor não se divide, ele se multiplica. E mais: ao ver o Gui como irmão mais velho, meu amor por ele cresceu ainda mais. Como se, de repente, a família tivesse ganhado uma nova dimensão de afeto. Mas, se o amor já não era uma dúvida, surgiam outros desafios.


A chegada de um filho muda completamente a nossa vida. Nos tornamos pais e, com isso, tudo se reorganiza: rotina, prioridades, até a noção de tempo. Com a chegada do segundo filho, a tendência era que fosse mais fácil. Afinal, já tínhamos passado pela grande transformação da paternidade. Sabíamos trocar fraldas, interpretar choros, entender cada sorriso. Só que, na prática, desbloqueamos novos anseios, novas dúvidas, novas expectativas.


Primeiro, cada ser é único. O que funcionava para um nem sempre funciona para o outro. Se um dormia embalado no colo, o outro pode precisar de silêncio absoluto. Se um aceitava qualquer papinha, o outro pode torcer o nariz para metade dos sabores. Parece óbvio, mas é surpreendente perceber como, mesmo dentro de uma mesma família, há universos completamente distintos.


E aí vem a grande questão: como dividir a atenção? Como explicar para o primogênito que aquele tempo que era só dele agora precisa ser compartilhado com um serzinho que mal interage? Como lidar com a culpa de não estar tão presente para o segundo filho quanto estivemos para o primeiro? Com o Gui, cada pequena conquista foi celebrada com intensidade. Com o Léo, a sensação é de que tudo passa rápido demais.


Por um tempo, fiquei preso nessa ideia de perda. O que cada um estava deixando de ter? O que estavam perdendo por terem que dividir o tempo, os pais, a atenção? Mas então veio a virada: e os ganhos? O que significa, de verdade, ter um irmão?


Ter um irmão é ter um espelho e um desafio ao mesmo tempo. Alguém para ensinar e aprender, para brigar e fazer as pazes, para dividir brinquedos e histórias. É crescer aprendendo que o mundo não gira em torno de um só, que às vezes precisamos esperar, ceder, compartilhar. É treinar empatia desde cedo, aprender sobre limites e acolhimento. É ter, na vida, um primeiro grande exercício de convivência e humanidade.


Foi nesse momento que me lembrei da minha própria infância. De como fui feliz ao lado dos meus irmãos, das aventuras, das brigas que logo se transformavam em abraços, das cumplicidades que foram construídas ao longo do tempo. Crescer com irmãos foi uma das experiências mais ricas e formadoras da minha vida. E, ao olhar para os meus filhos, percebo que estou proporcionando a eles essa mesma vivência, esse mesmo aprendizado profundo sobre o que é ser família e o que é ser humano.


Hoje, vejo que meus filhos ganham muito mais do que perdem. Ganham um ao outro. E nós, como pais, ganhamos a oportunidade de assistir a essa relação nascer e se transformar. Ver um ajudando o outro, ver os abraços espontâneos, os sorrisos cúmplices, até mesmo as pequenas discussões que ensinam tanto sobre lidar com diferenças.


Se antes eu achava que estava dando um irmão ao meu filho, hoje percebo que, na verdade, estou dando a eles uma das experiências mais ricas que a vida pode proporcionar: a de crescer junto, de se tornar mais humano pelo encontro com o outro.

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