A Sabedoria de um Pote D’Água
- Bruno Anicet Bittencourt
- 8 de dez. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 1 de jul.
Essa semana, enquanto dava banho no meu filho, experimentei um daqueles momentos que a paternidade nos oferece sem aviso: um instante de pura simplicidade, mas que carrega consigo uma lição profunda. Cumpri o “checklist” básico — sabonete, shampoo, risadas — e depois fiquei só observando. Ele estava fascinado com um pequeno experimento: enchia um pote de água, virava-o, e via a gravidade fazer seu trabalho. Repetiu isso várias vezes, aprimorando sua técnica, testando limites e se maravilhando com o que, para ele, era pura mágica.
O curioso é que, enquanto ele estava mergulhado em sua descoberta, eu também estava imerso — mas em reflexão. A cena parecia um retrato vivo de algo que muitas vezes esquecemos: o aprendizado vem da experimentação, da curiosidade, do brincar. Ali, sem nenhum manual ou instrução, meu filho estava aprendendo mais do que poderia imaginar. E eu, que deveria ser o professor, estava aprendendo com ele.
Fiquei pensando em como nosso modelo educacional, tão focado em regras, fórmulas e respostas prontas, desvia-se dessa lógica tão natural de aprendizado. Quem decidiu que as aulas expositivas são o ápice da educação? Onde foi que nos convenceram de que copiar conteúdos no quadro-negro é mais eficaz do que permitir que as crianças descubram sozinhas?
E não é só a escola. Como pai, confesso que caio na mesma armadilha. É tentador querer ensinar tudo, fazer meu filho “decorar” as respostas certas, para que pareça mais esperto. Mas será que, ao fazer isso, não estou sufocando sua capacidade de descobrir o mundo por conta própria? Será que não estamos, sem querer, criando gerações que esperam respostas prontas porque nunca foram incentivadas a encontrá-las?
No mundo corporativo, ouço com frequência críticas sobre como os jovens são imediatistas, como “não querem nada com nada.” Mas será que não somos nós os responsáveis? Fomos nós que podamos sua curiosidade com nossas pressas, nossas respostas rápidas e nossos cronogramas imutáveis. Como podemos esperar que eles sejam criativos, se raramente lhes damos espaço para experimentar?
Essa experiência com meu filho me conectou a algo maior. Recentemente, comecei a encarar a vida como uma coleção de experiências. Parece simples, mas é transformador. Perguntar a mim mesmo: quero viver isso? Quero guardar essa experiência? Me ajudou a estar mais presente no momento, a dizer “não” para o que não faz sentido, e a valorizar o que realmente importa. Não estou dizendo que isso torna a vida perfeita — longe disso. Mas, ao mergulhar nas experiências que escolho viver, sinto que aprendo, descubro e cresço.
Assim como meu filho fez com aquele pote de água, me pergunto se estamos nos permitindo viver a vida com curiosidade e simplicidade. Será que estamos realmente atentos ao que as experiências do cotidiano têm a nos ensinar? Talvez a educação, assim como a parentalidade, precise menos de respostas e mais de perguntas. Menos pressa e mais presença. A vida não é só um conjunto de tarefas para cumprir; ela é uma sucessão de descobertas, que muitas vezes acontecem nos momentos mais simples — como em uma brincadeira de banho.
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